sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Chá, café, manteiga, leite, carne...

"(...) mas se ele se punha a usar chá, café, manteiga, leite, carne, tinha que trabalhar pesado para pagar essas coisas, e depois de trabalhar pesado, tinha que comer pesado de novo para recompor os gastos do corpo - e que, feitas as contas, dava na mesma, e na verdade ele saía perdendo, pois estava descontente e tinha empenhado a vida naquele negócio -; no entanto, ele achava que saía lucrando ao vir para América, pois aqui podia ter chá, café e carne todos os dias. Mas a única verdadeira América é o país onde você tem liberdade de seguir um modo de vida que lhe permita passar sem essas coisas e onde o Estado não se empenha em obrigá-lo a sustentar a escravidão, a guerra e outras despesas supérfluas, que direta ou indiretamente resultam do uso de tais coisas (...)"
Walden
H. D. Thoreau



Transcrevendo Walden para os dias atuais, deparamo-nos com uma realidade mais árdua frente a que Thoreau já criticara. A imposição do sistema capitalista como única alternativa da vida moderna, alienou-nos no que rege o verdadeiro significado da palavra ‘felicidade’. Possuir o carro x, y ou z é ser feliz para você? Comprar o vestido w, g ou k te torna uma pessoa mais alegre? A felicidade de tais compras, se assim podemos dizer, é tão momentânea que logo quererás comprar outros e depois mais outros, enquanto aquelas antigas fontes imprescindíveis de felicidades foram logo esquecidas e descartadas. É, além de tudo, um desperdício constante de recursos, mas quem se importa? A Natureza está sendo devastadas? Espécies estão sendo extintas? Animais estão sendo torturados? Árvores estão sendo cortadas? Mas, novamente, quem se importa?

O mais engraçado de tudo é que reclamamos veementemente de nossos trabalhos, que estamos cansados, exaustos, mas por quê? Por que trabalhas tanto? Trabalhas, sim, porque queres a vida fútil, repleta de coisas desnecessárias que supõe indispensáveis para sua vida próspera. Então pare de reclamar, se queres sustentar o sistema, sustente-o de bom grado com sua exploração constante. Mas lembre-se, o capitalismo é uma força manipuladora que nos pressiona a nos tornarmos cada vez mais individualistas e, com certeza, pode ser entendido como o grande mal da humanidade. Nossa sociedade de consumo deve, assim, ser indubitavelmente posta em xeque, juntamente com aqueles assumidos reprodutores desse sistema brutal sem se importar com as consequências da exploração das classes que estão à margem. Não podemos nos deixar sermos massacrados e engolidos pela realidade excludente de um sistema que vive da própria miséria que cria! Para isso, é urgente que vejamos, de fato, a realidade a que estamos fadados a nos defrontar todos os dias.

Parodiando Bakunin, a felicidade do outro estende a minha ao infinito. Aquele que se acha feliz, mas se entristece só de pensar na realidade não pode ser considerado verdadeiramente feliz. Um real beato é aquele que é livre para pensar alegremente no mundo sabendo que todos, incluindo plantas e animais, estão vivendo suas vidas como antes da era escura do capitalismo.






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