terça-feira, 22 de novembro de 2011

42 dias

O Chester de Natal

A ceia está pronta, avisava mamãe. Todos se dirigiam a mesa para uma refeição em felcidade. Papai toma a faca para fazer as honras. O momento que já vivi tantes vezes desde que nasci se repete. Todos estão felizes e unidos mais uma vez. É esse o poder da mesa de jantar, uma hora de felicidade.

A Metamorfose

Ao chegar em casa carregando minha filhinha em meus braços, deito-a cuidadosamente em sua cama. Ela desperta querendo abrir os presentes, mas rapidamente cai em sono profundo. Deito-me ao lado da Barbie. Dou-lhe um beijo feliz de boa noite e me viro. Tenho uma última visão de meu teto no escuro. Fecho os olhos. Abro os olhos. Tenho uma visão de um novo teto no escuro. Só que agora meu quarto está muito menor, duvido até que seja meu quarto. Onde estou? Tenho que sair daqui. Realizo um esforço tremendo e finalmente consigo quebrar o teto. Branco. Que sala imensa. Onde foi parar minha casa querida, minha cama confortável, minha amada família? O mundo balança, sou atirado para longe.

Guerra Sem Paz

Estou no meio de muitos outros como eu, todos desnorteados e estupefatos. Em baixo de mim estão muitos e acima de mim o mesmo. Empilhados e lutando por suas vidas me pisoteiam. Muitos são feridos e até mortos. Bravamente me balanço até chegar em um lugar ao topo, onde esta mais estável. Talvez porque a minha volta estejam dormindo. Talvez porque estejam mortos. Não importa. Quero sobreviver. A luz se vai.

Um Pouco de Ar, Espaço, Cuidado e Carinho, Por Favor!

Chegando ao destino, eu e meus companheiros somos jogados novamente. Algo me puxa ao ar e me leva a um monstro estranho. Tudo acontece tão rápido que só percebo minha mutilação após alguns momentos. Sim, fui mutilado, perdi uma parte de meu corpo e, pelo o que parece, meus parceiros também. Sou posto em uma espécie de prisão com dois amigos. A cela não é muito grande nem muito pequena. Após alguns dias sei que a comida virá. Ela vem regularmente. Sempre a mesma comida. Sempre o mesmo espaço. Sempre o mesmo. Sempre o mesmo.

A Não Revolução dos Bichos

Após dias aqui, a cela parece que está mutio menor. Mal consigo me mover sem tocar em meus dois amigos. Amigos? Não. Não são meus amigos. Tenho que fazer algo. Sinto-me impotente. Devo matá-los. Não pode ser, não sou assim, tenho a razão. Minha mente não funcia mais. Irei matá-los. Mas como? Com o que? Sou apenas um mutilado que nem pode ferir os outros outros.

Ensaio Sobre Liberdade

A cela se abre, pegam-me pelas pernas e me prendem. Sei que ele está chegando. Finalmente. Como esperei por ele. Avisto minha paixão, o degolador está logo ali. Só mais um pouco, ele está chegando. Degola mais um, degola mais um, degola mais um. Estou livre!

Memórias Póstumas

Mesmo depois de morto não me deixam em paz. Não paro de me mexer. Morto não se mexe sozinho. Sem avisos prévios saio de meu corpo.Olho para mim, finalmente enxergo a verdade. Cruel verdade. Desde o princípio tudo se esclarece. Esse sou eu, aquele sou eu, esses são eu na mesa de jantar. Verdade cruel. Esse é o poder da mesa de jantar.

42 dias é o tempo de vida médio de uma galinha produzida em uma fazenda industrial.


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