terça-feira, 10 de janeiro de 2012

War Pigs*


Saiba quanto trabalho escravo você consome

Autor: Sara Nanni


É desanimador, mas a humanidade ainda não se livrou do trabalho escravo. Parece coisa do século 19, mas ele ainda permeia nossa sociedade, levando milhares de pessoas a se sujeitarem a condições humilhantes de trabalho.

Segundo estimativas da organização Slavery Footprint, um jovem brasileiro com pouco mais de 20 anos, que paga aluguel, tem uma bicicleta, vários pares de tênis e equipamentos eletrônicos, consome o trabalho de aproximadamente 60 pessoas submetidas a trabalhar como se fossem escravas.

Os dados da Slavery Footprint são alarmantes. No mundo, há 27 milhões de trabalhadores forçados. Para a OIT (Organização Mundial do Trabalho), o número é menor e chega a mais de 12 milhões de pessoas, mas não deixa de ser assustador. No Brasil, nos últimos 15 anos, mais de 36 mil pessoas foram resgatadas do trabalho escravo, de acordo com o Ministério do Trabalho.

Para tentar conscientizar as pessoas sobre a realidade do trabalho escravo no mundo, buscando a mudança de hábitos de compra, a Slavery Footprint criou um questionário on-line, no qual você deverá detalhar como é a sua alimentação e quanto você possui de jóias, roupas, sapatos e aparelhos eletrônicos. Por trás de um inocente tênis de marca, pode estar o sofrimento de alguém que é explorado para baixar custos e elevar os lucros.

A Zara, badalada marca internacional de roupa, já foi flagrada três vezes por equipes de fiscalização do governo federal explorando trabalhadores estrangeiros na cidade de São Paulo. A Nike é outro mau exemplo, que já foi denunciado até por trabalho infantil nos países em desenvolvimento, onde mantém suas fábricas.

O cálculo não informa marcas, mas tem base em informações sobre os processos de fabricação dos 400 produtos mais consumidos no mundo. Esses dados são coletados pelo Departamento de Monitoramento e Combate ao Tráfico de Pessoas, Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, pela Transparência Internacional e OIT.

O objetivo também é mostrar às fabricantes das marcas mais famosas do mundo, que os consumidores querem ficar atentos à forma como elas conduzem suas práticas trabalhistas.

Faça o cálculo do quanto você consome de trabalho escravo, e reflita sobre o que você pode fazer para melhorar essa realidade: http://www.slaveryfootprint.org

O que gera o trabalho escravo?

Diferente do que acontecia no século 19, quando índios e negros eram caçados e forçados ao trabalho escravo sob ameaça de morte, hoje é a desigualdade social que propicia a manutenção da escravidão. Uma grande massa de pobres e desempregados é aliciada pelas empresas e grandes corporações, acreditando que conseguiram um emprego, e depois são enganadas e expostas a uma realidade cruel.

É claro que o consumidor está na fase final da linha de produção do trabalho escravo. Mas ele pode contribuir para reverter essa situação boicotando marcas e pensando melhor antes de consumir determinados produtos. E até mesmo protestando e reclamando abertamente junto às marcas que promovem processos escusos de fabricação de produtos. Hoje há muitas maneiras de fazer isso, e as redes sociais são excelentes canais para expor opiniões e queixas.

Na outra ponta, o consumismo gerado pela própria lógica capitalista não deixa essa roda parar de girar infinitamente, até que o ciclo se quebre, o que só pode acontecer pela consciência daquilo que compramos diariamente.



*Black Sabbath

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